O que é SOP?

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) ocorre em 6% a 10% das mulheres que estão na idade fértil (20 a 44 anos).
Para se ter uma ideia da importância desses dados, estima-se que no mundo existam cerca de 100 milhões de mulheres com esta doença. No Brasil, se considerarmos dados recentes, podem existir, aproximadamente três milhões de mulheres com esta síndrome.
Dentre as causas de infertilidade, as mais comuns são aquelas associadas à dificuldade de ovulação. Neste grupo, a doença mais frequente é a SOP. Desta forma, considerando que há tratamento eficiente, o diagnóstico precoce e adequado permitirá um controle mais eficiente das alterações hormonais, conseqüentemente com maior chance de sucesso na gravidez e redução do risco das complicações metabólicas causadas pelo ambiente hormonal inadequado.
As alterações hormonais características desta síndrome causam vários sintomas. Ao invés de se formar um único folículo no ovário, que é o natural, formam-se vários folículos que ficam “acumulados”, sem liberar os óvulos; eles não se rompem. Daí o nome “ovários policísticos”, que, como veremos mais adiante, não é alteração orgânica obrigatória nesta síndrome. Existem vários hormônios que participam destas alterações, mas os principais são os androgênios (hormônios masculinos normalmente fabricados pelos ovários, em quantidades pequenas). Importante observar que, como toda doença de fundo hormonal, as conseqüências são múltiplas, já que todos os processos metabólicos do organismo humano são interligados. Assim, a SOP pode, além da infertilidade, levar a complicações futuras mais sérias, como diabetes e câncer de endométrio, com risco aumentado em pacientes obesas.

DIAGNÓSTICO

É feito através do histórico da paciente, de exame clínico e exames laboratoriais. São importantes para o diagnóstico:



Histórico e exame clínico

Menstruação irregular: é uma das principais características. As menstruações vêm esporadicamente, podendo demorar até 90 dias entre uma e outra. Muitas vezes elas só aparecem quando as pacientes recebem medicamentos para estimular. Esse sintoma é comum em grande parte das mulheres com essa síndrome.
Obesidade: pelo menos metade dessas mulheres está acima do peso, isto é, o Índice de Massa Corpórea (IMC)está entre 25 ou 30 (lembrete: IMC = Peso/Altura ao quadrado). Esse é um fator fundamental para futuras complicações desta doença. A circunferência abdominal não deve ser superior a 88 cm (alguns já consideram o valor máximo de 80 cm).
Infertilidade: devido às alterações hormonais, essas mulheres passam a ovular menos ou de maneira inadequada e, por isso, podem ter dificuldade em engravidar. Das causas de infertilidade, o fator ovulatório ocupa um lugar de destaque, e 75% dele é devido a esta síndrome. Além disso, essas mulheres têm um alto índice de aborto.
Hirsutismo: é o aparecimento de pelos em locais onde normalmente não deveriam existir na mulher (face, tórax, glúteos, ao redor dos mamilos, região inferior do abdômen e parte superior do dorso).
Acne: 30% das mulheres com SOP têm este sinal, que consiste num processo inflamatório da pele do rosto caracterizado por erupções superficiais causadas pela obstrução dos poros.
Alopécia: é a queda em excesso de cabelos na região do couro cabeludo, levando à rarefação de pelos, comum aos homens e raro nas mulheres.
Seborreia: é a oleosidade da pele e do couro cabeludo.
Acantose nigricans: é o aumento da pigmentação da pele (manchas escuras) em áreas de dobras, como pescoço e axilas.

EXAMES COMPLEMENTARES

Ultrassom: o ideal é ser realizado pela via transvaginal, mas muitas vezes é impossível de ser realizado em adolescentes (virgens). Neste exame, observa-se o volume ovariano (>10cm3), a textura do ovário e a presença de pequenos cistos. A presença de 12 ou mais em cada ovário, medindo 2 a 9 mm no seu maior diâmetro, sugere o diagnóstico.
Resistência à insulina: a insulina é um hormônio responsável por facilitar a entrada da glicose na célula. Em algumas doenças como a SOP, existe um defeito na sua ação, o que leva a um acúmulo de glicose no sangue. Como consequência, podem surgir a diabetes e o aumento da concentração deste hormônio no sangue. A resistência à insulina é um exame muito importante tanto para o diagnóstico como para avaliar as possíveis complicações futuras, que serão descritas mais adiante. Há, porém, algumas dificuldades nesta avaliação, pois até hoje não existe um exame específico para o diagnóstico definitivo. Atualmente, a melhor opção é a dosagem da glicemia e a insulina em jejum, e repetida duas horas após a alimentação ou através do índice de glicemia de jejum/insulina de jejum, que deverá ser menor que 4,5.

Outros exames

Avaliação hormonal
• FSH e LH – a relação LH e FSH é geralmente > 3:1.

• Hidroxiprogesterona (17 OHP) – para descartar a hiperplasia congênita da glândula suprarrenal, que pode causar um quadro clínico semelhante à SOP. 
• T3, T4, T4 livre e TSH – são hormônios ligados à tireóide e que estão relacionados à síndrome. 
• Prolactina – hormônio normalmente aumentado em mulheres que estão amamentando, mas que, fora desta condição, causa alterações menstruais. 
• Androgênios: testosterona, testosterona livre, SHBG e SDHEA, androstenediona e cortisol.

GENÉTICA E HEREDITARIEDADE

Acredita-se que a SOP tenha caráter hereditário, e muitas publicações científicas têm confirmado esta possibilidade. Foi observado este diagnóstico entre irmãs destas pacientes, e, alguns irmãos, mesmo sendo homens, apresentaram alterações laboratoriais idênticas as de suas irmãs com esta síndrome. Filhas e irmãs de mulheres com SOP têm 50% mais chances de desenvolver este problema.

DIAGNÓSTICO FINAL (CONSENSO DE ROTTERDAN – 2003)

É feito quando houver pelo menos duas das três características abaixo descritas:
A) hiperandrogenismo (aumento do hormônio masculino) refletido por hirsutismo, acne, queda de cabelo (ver sintomas acima) ou exames de laboratório;
B) ciclos menstruais com intervalos irregulares, anovulatórios ou longos (atrasos menstruais);
C) ovários com característica micropolicística.
Portanto, o diagnóstico da SOP poderá ser: A e B, A e C e B e C – isso torna interessante o fato de a mulher com SOP não precisar ter obrigatoriamente os ovários com múltiplos cistos!
Importante: é necessário excluir outras doenças que têm apresentação clínica semelhante, como tumores virilizantes, hiperplasia congênita da supra-renal e a Síndrome de Cushing.

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